CCBB São Paulo recebe exposição inédita que mapeia mais de 40 anos de fotografia feminina no Pará
A partir de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o público poderá conferir uma mostra que
reafirma a relevância de uma produção fotográfica reconhecida internacionalmente como uma
das mais potentes expressões visuais da Amazônia e da fotografia contemporânea artística.
A exposição celebra a pluralidade de um Pará capturado por olhares diversos e autênticos,
enraizados em suas paisagens e histórias, ressaltando também a força e a sensibilidade das
narrativas visuais, muitas delas atravessadas pelo olhar feminino e pela resistência de
mulheres que fazem parte desse território.
Na abertura, CCBB São Paulo terá programação especial com bate-papo da curadora e artistas
convidadas, a experiência sonora Som em Cena: Encantarias Amazônidas e o show Vertentes:
Ritmos do Pará – tudo gratuito e livre para todos os públicos.
Canoa e Barra de Saia Vila Caraparu, 1984. Fotografia analógica p&b, 77 cm x 120 cm. Foto: Leila Jinkings
O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo recebe, a
partir de 8 de março de 2025, Dia Internacional da Mulher, a exposição VetoresVertentes: Fotógrafas do Pará, um panorama da fotografia contemporânea feita por
mulheres amazônicas. Projeto do Museu das Mulheres, com curadoria de Sissa
Aneleh, a mostra nasce de um extenso trabalho de pesquisa que vem sendo realizado
há mais de uma década e propõe reflexões sobre identidade, território e memória, a
partir da perspectiva de temáticas de 11 fotógrafas.
A exposição reafirma a potência do olhar feminino na fotografia contemporânea
artística e destaca a importância da representatividade e da autonomia das mulheres
na construção de narrativas visuais que traduzem a riqueza cultural e social da
Amazônia.
A exposição reúne cerca de 160 obras – incluindo fotografias, jornais artísticos,
propostas fotográficas, áudios e vídeos – distribuídas em cinco andares do edifício do
CCBB. A visitação inicia-se no 4º andar e segue um percurso descendente, até o
subsolo, proporcionando ao visitante uma experiência fluida e imersiva, do tradicional
ao experimental.
Para compor essa exposição, Sissa Aneleh realizou uma pesquisa aprofundada sobre a
fotografia na Região Norte, buscando compreender o papel das mulheres fotógrafas
naquele contexto e na história. “Era essencial trazer uma representatividade diversa,
tanto geracional quanto estética. A fotografia feita por mulheres no Pará desafia os
limites entre a arte, a documentação e a experimentação – é uma importante
ferramenta de resistência e afirmação identitária”, explica a curadora.
A mostra apresenta um recorte inédito, que traça um panorama de mais de 40 anos
de produção fotográfica feminina na Amazônia, reunindo gerações de artistas que
exploram desde a experimentação visual até a documentação social. Entre as
precursoras das décadas de 1980 e 1990 estão Bárbara Freire, Cláudia Leão, Leila
Jinkings, Paula Sampaio e Walda Marques. Já a nova geração é representada por Evna
Moura, Deia Lima, Jacy Santos, Nailana Thiely, Renata Aguiar e Nay Jinknss. Cada
uma dessas artistas contribui, à sua maneira, para ampliar os repertórios da fotografia
brasileira e desafiar concepções tradicionais sobre a Amazônia.
O Banco do Brasil incentiva a cultura há mais de 35 anos, contribuindo para dar
visibilidade a produções artísticas que ampliam o olhar sobre a diversidade cultural do
país. Para Cláudio Mattos, Gerente Geral do CCBB SP “receber essa exposição
representa uma oportunidade de trazer ao público um recorte potente da fotografia
brasileira, que revela novas narrativas conduzidas por mulheres que ressignificam o
olhar sobre a Amazônia, seus territórios e suas histórias”.
PERCURSO
A exposição foi organizada de forma a proporcionar uma imersão na pluralidade das
representações visuais, conduzindo o visitante por uma verdadeira jornada pela
visualidade amazônica. No 4º andar, o público encontra um espaço dedicado à
fotografia experimental e à manipulação de imagens, no qual linguagens inovadoras
dialogam com a tradição e o contemporâneo. Ali, as artistas exploram o hibridismo da
fotografia como suporte expandido, criando tensionamentos entre o real e o
imaginado.
No 3º andar encontram-se trabalhos que utilizam a experimentação com imagens
resultantes da manipulação digital e analógica usando negativos fotografados e
arquivos digitais que somam experiências fotográficas na sala que apresenta
desdobramentos fotográficos de Paula Sampaio, Walda Marques e Deia Lima, que
flertam com novos suportes que se comunicam com o passado e o presente da
fotografia.
O 2º andar destaca a presença de fotografias coloridas, com narrativas afro-indígenas
e quilombolas, ressignificando o poder da imagem como instrumento de resistência e
afirmação cultural, e exaltando o registro da cultura, da religiosidade e do cotidiano
amazônico, com obras que transitam entre a fotografia documental, os gêneros
fotográficos e a foto performance. Abordando identidade, feminino ancestral e corpo
as fotografias capturam a vida ribeirinha e urbana, os rituais, as festas populares e as
manifestações culturais que revelam a complexidade das relações entre tradição e
modernidade na Amazônia urbana e da floresta.
No espaço, é possível observar a forte presença feminina nos trabalhos das fotógrafas
Evna Moura, Nailana Thiely, Jacy Santos, Nay Jinknss e Renata Aguiar. “São imagens de
mulheres reais, regionais e brasileiras em diversos contextos, salvaguardando no
registro fotográfico a humanidade local, os rituais afros e indígenas, além da
pluralidade de identidades e culturas”, comenta a curadora.
No térreo, a experiência ganha camada imersiva e sensorial única: uma oca serve de
cenário para se assistir a um filme em Realidade Expandida. O filme MUKATU’HARY
(Curandeira) conduz o visitante a uma aldeia indígena de paisagem milenar para uma
imersão na musicalidade e nos rituais ancestrais de Maputyra Guajajara. Baseado em
um ritual real, apresenta um recorte autêntico dessa prática de cura.
No subsolo, a exposição apresenta trabalhos em preto e branco obre a historicidade
da fotografia brasileira, ressaltando a relação entre regionalidade, território e
memória. As obras expostas evocam reflexões sobre identidade e pertencimento,
reafirmando que a fotografia é mais do que um registro – é um meio de contar e
preservar histórias, atestando o valor da identidade brasileira e construindo novos
imaginários sobre a Amazônia.
Em diferentes pontos do CCBB, a interatividade completa a experiência com arte e
tecnologia. Os visitantes encontrarão fotos exibidas por Realidade Aumentada, com a
possibilidade de selfies, vídeos e interação com obras disponíveis no prédio do Centro
Cultural Banco do Brasil. No percurso, o visitante encontrará a instalação aromática
Icamiabas, inspirada nas mulheres indígenas, e que aproxima os visitantes dos cheiros
da Amazônia com seis perfumes preparados exclusivamente para a exposição.
A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à
Cultura. A produção é do Museu das Mulheres e da MADAI.
AS ONZE FOTÓGRAFAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES
Bárbara Freire: Une fotografia urbana e poética, destacando a relação entre
narrativas fotográficas, audiovisuais e documentais em suas imagens, que ora
estão no experimental, ora no registro da diversidade visual do Pará.
Cláudia Leão: Especialista em fotografia experimental, lança mão de processos
alquímicos de fotografia, interligando elementos diversos aos processos de
revelação de negativos fotográficos e composição física de obras.
Deia Lima: sua obra ressignifica a imagem das mulheres e apresenta a
identidade visual regional na era digital.
Evna Moura: Explora a fotografia experimental, direta e performática,
utilizando processos analógicos e digitais para criar imagens que dialogam com
a ancestralidade, a espiritualidade afro-amazônica e o meio ambiente urbano
amazônico, além de registrar personalidades LGBTQIAP+ regionais.
Jacy Santos: influenciada pela fotografia documental regional, suas imagens
retratam o cotidiano amazônico com um olhar humanista e poético. Seu
trabalho é um testemunho visual das identidades sociais e culturais da região.
Leila Jinkings: Fotógrafa e documentarista com forte envolvimento nos
movimentos sociais, sua obra é um registro da luta política e cultural da
Amazônia e do Brasil.
Nailana Thiely: Dedica-se à documentação de culturas indígenas, ribeirinhas e
afrodescendentes, acrescentando um olhar intimista aos retratados, o que
valoriza a narrativa.
Nay Jinknss: Com uma abordagem decolonial e social, retrata questões de
identidade, feminismo negro e mulheres representativas da cultura amazônica.
Paula Sampaio: Reconhecida por seu trabalho no fotojornalismo e na
documentação de comunidades ribeirinhas e quilombolas, retrata a resistência
das populações tradicionais, as memórias urbanas de Belém e a exploração
ambiental da Amazônia.
Renata Aguiar: Doutora em Artes Visuais, investiga as relações entre corpo,
território, performance fotográfica, autobiografia, ritualidade e cultura artística
local, além de abordar a representatividade LGBTQIAP+ na Amazônia.
Walda Marques: Mescla fotografia documental e arte conceitual, percorrendo
a identidade, a memória e a religiosidade urbana amazônica.
PROGRAMAÇÃO ESPECIAL CCBB SÃO PAULO
Em 8 de março, Dia Internacional da Mulher e data de abertura da exposição VetoresVertentes: Fotógrafas do Pará, o público poderá conferir uma programação especial no
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo.
• Bate-papo: a mostra estará aberta das 9h às 20h, e às 11h, no Cinema,
acontece um bate-papo com as artistas Evna Moura, Renata Aguiar e Leila
Jinkings, sob a mediação da curadora Sissa Aneleh.
• Apresentação: no período da tarde, às 14h, haverá a apresentação Som em
Cena: Encantarias Amazônidas, uma experiência sonora, realizada pelo CCBB
Educativo, que se estende até 14h25 no Mezanino.
• Show: encerrando a programação do dia, o show Vertentes: Ritmos do Pará,
com Ellie Valente e Liége, acontece das 16h às 17h30, também no Mezanino,
trazendo a riqueza musical da região em uma celebração vibrante da cultura
amazônica.
CURADORA – Sissa Aneleh é curadora, pesquisadora, historiadora da arte, diretora artística e
gestora cultural, doutora em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB) e mestra em
Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Com mais de quinze anos de atuação na
pesquisa de fotografia, artes plásticas e artes visuais, seu trabalho concentra-se na valorização
da produção artística da Amazônia e do Brasil, com ênfase na perspectiva feminina e
decolonial.
Especialista em fotografia paraense, identidade e território, Sissa desenvolve projetos que
ampliam as narrativas visuais da região, desafiando representações hegemônicas e
promovendo o protagonismo de mulheres artistas amazônidas. Além da curadoria de
exposições nacionais e internacionais, é diretora e curadora geral do Museu das Mulheres.
MUSEU DAS MULHERES – O Museu das Mulheres (Museu DAS) é o primeiro museu
dedicado às mulheres no Brasil. Constitui-se como uma instituição de arte privada, fundada
em 2022. Nasceu da vontade de reconhecer o valor da produção artística, intelectual e prática
das mulheres no Brasil e no mundo. Tem por visão e missão institucionais: impulsionar o
avanço das mulheres e valorizar o protagonismo feminino em arte, cultura, literatura,
educação, música, patrimônios material e imaterial, tecnologia, história, pesquisa e demais
áreas de realização das mulheres. Museu híbrido, atua tanto no universo físico quanto no
virtual, lança projetos em ambientes espaciais imersivos e interativos – com Realidade
Expandida (XR), Realidade Aumentada (RA) e Realidade Virtual (RV) – e, por extensão, tem
salas expositivas no Metaverso. Possui programação em artes plásticas e visuais, cinema,
eventos, além de programa educativo, área de pesquisa, editora e acervo.
Edição por Rose Cecilia
Data de publicação desta Matéria 11-03-2025
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