MOTÉIS APROVEITARAM AS DIFICULDADES DA PANDEMIA PARA VIRAR O JOGO

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Felipe Martinez, Presidente da ABMOTÉIS

Com seis décadas de história no país, a rede moteleira nunca havia passado por uma queda tão expressiva no movimento quanto nos primeiros meses de 2020, período em que muitas empresas foram profundamente afetadas pela crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19. Por conta da falta de conhecimento sobre a doença e das medidas bastante rigorosas de higiene e limpeza para controlar o avanço do novo coronavírus, o segmento também sofreu grandes impactos. Só nessa época, o recuo na frequência de clientes foi de 60%.

Ao contrário do que muitos imaginam, esse ramo de atividade também registra números expressivos na economia brasileira, principalmente na área de lazer e bem estar. São mais de cinco mil motéis espalhados por todo Brasil. Ou seja, é um setor já consolidado que emprega mais de 250 mil pessoas. Anualmente, cerca de 100 mil hóspedes - dos quais 85% deles estão em relacionamentos de união estável - fazem esse mercado movimentar aproximadamente R$ 4 bilhões com o consumo de produtos e serviços.

Então, já parou para pensar quando um segmento com resultados consolidados e profissionais no país é impactado tão negativamente como aconteceu no começo dessa crise sanitária sem precedentes? Isso foi amargado pelo setor moteleiro, pois tudo era incerto e causou muito temor dos dois lados: os frequentadores que temiam a possibilidade de contrair o vírus e os próprios donos dos estabelecimentos, pois eles não sabiam como lidar com o novo e assustador cenário.

No entanto, o tempo passou e, ao longo dele, os motéis conseguiram redescobrir suas características vantajosas. Por ser um ambiente propício para manter o distanciamento social, sem aglomerações, o setor logo começou a dar sinais de recuperação quando o brasileiro percebeu que o motel é uma alternativa segura de lazer e entretenimento. Com protocolos rígidos de higiene e limpeza, bem anteriores ao período em que estamos vivendo, o público entendeu que as suítes são locais privativos sem contato físico com outras pessoas. Do check-in ao checkout o hóspede não tem contato com nenhuma outra pessoa a não ser o parceiro.

Esse novo momento levou os empresários a alavancar ainda mais o mercado, que vem se posicionando cada vez mais forte como espaço voltado para momentos de bem-estar e conexão do casal. São opções que transformam a experiência da estadia de uma forma única que outros meios de hospedagem não conseguem: no portfólio encontram-se atrativos 100% privativos como piscina, sauna, banheiras incríveis, filmes, teto solar e muito mais. Nem em hotéis cinco estrelas, com diárias que estão fora da realidade da maioria da população, há tantos benefícios como nos quartos de motéis.

De olho no público consumidor, a rede moteleira tem apostado em algumas frentes. Entre elas estão a profissionalização da gestão e das equipes que cuidam das suítes e da cozinha; o retrofit das instalações que têm se tornado um espaço totalmente lúdico, desenhado para que o casal saia da rotina; a comunicação e o reforço de marca. Esse último quesito tem ajudado a elevar o mercado para o patamar de "indústria de wellness e bem-estar sexual". Fora isso, tem a jornada digital, essencial para qualquer negócio se manter no mercado hoje em dia.

Gastronomia é o diferencial

A gastronomia nos motéis teve um crescimento de 40% nos últimos meses durante a pandemia, que no motel funciona como um restaurante único, privativo, exclusivo para o casal, tornou-se um diferencial que passou a ganhar mais força neste momento de pandemia, atraindo ainda mais público para as suítes. O destaque do mês de setembro será a realização do "Chef’s no Motel", evento que funciona durante um mês, 24 horas por dia, onde o casal paga um valor promocional (entrada + prato principal) para saborear pratos exclusivos durante a hospedagem - e em alguns motéis, os cardápios são assinados por chefs famosos e participantes de realities gastronômicos.

Vale destacar que, hoje, as marcas estruturam seus serviços com muito mais foco no marketing de experiência, que proporciona benefícios além do prazer momentâneo, geram lembranças. Apesar de ser um serviço 100% físico (assim como no caso de transporte por aplicativos, por exemplo), a jornada de compra de produtos e serviços dos motéis tem se tornado digital, reforçando um novo jeito de consumir o que este mercado oferece e privilegiando o que a atual geração de jovens 18+ busca: conveniência, comodidade, experiência e lembranças únicas.

Essa tendência vem se fortalecendo desde a chegada da pandemia, por meio dos sites e-commerce de alguns motéis ou do aplicativo guia de motéis go. O casal garante não só privacidade, segurança e entretenimento, mas também a reserva antecipada da suíte e de tudo mais para deixar seu momento a dois ainda mais tranquilo, permitindo que as "horas, pernoite ou diárias de descompressão, alívio de estresse e relaxamento" aconteçam sem dor de cabeça. É só abrir o app e fazer a reserva.

O que fica de importante em todo o processo de transformação vivenciado pelo setor é o fato de os motéis terem aprendido a comunicar seus diferenciais para o público, que por sua vez recebeu essas informações com excelentes olhos. Consequentemente, os casais também compreenderam que cuidar da vida sexual envolve a longevidade do relacionamento e uma vida mais saudável. O mercado tem feito ao oferecer suítes, produtos e serviços cada vez mais aprimorados para melhorar as experiências dos parceiros. Tudo isso ressignifica o conceito de motel para "um local de refúgio, conveniência, diversão, cumplicidade e conexão".

*Felipe Martinez é presidente da Associação Brasileira de Motéis (Abmotéis), única representante dos motéis do Brasil.