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No próximo dia 27 (quarta-feira), é comemorado o Dia Mundial do Turismo, data criada em 1980 pela Organização Mundial do Turismo (OMT), agência das Nações Unidas responsável pela promoção do turismo responsável, sustentável e universalmente acessível. A data, amplamente comemorada ao redor do mundo, tem um significado especial em 2023: pela primeira vez, ela é comemorada após o fim oficial da emergência global da COVID-19.
Segundo pesquisa IPC Maps, especializada no potencial de consumo dos brasileiros há quase 30 anos, o turismo brasileiro deve movimentar, até o final deste ano, mais de R? 82,7 bihões, o que representa um crescimento de 9,6% em relação ao ano passado. Trata-se, de acordo com o estudo, de um cenário otimista, especialmente considerando que, para além da recuperação, o setor se recupera para além do patamar anterior à COVID-19 (em 2019, o potencial de consumo de vianges foi de R? 71,6 bilhões).
Os cálculos apresentados pelo estudo incluem informações de alimentação, hospedagem, passagens aéreas e de ônibus, além de combustível e excursão.
Para saber os desafios e oportunidades dessa indústria, que movimenta outros mais de 50 setores econômicos (aviação, hotelaria, locação de veículos e de carros, lavanderias, pequenos produtores locais, empresas de receptivo e de eventos, entre outros), ouvimos executivos de empresas nacionais e internacionais que são líderes em suas áreas de atuação, para saber, além da performance de suas companhias nos primeiros oito meses do ano – entre janeiro e agosto de 2023 – quais são os desafios e oportunidades que suas empresas identificam para o desenvolvimento da indústria.
Balanço de resultados e desafios da atualidade
Neste momento, um desafio que requer nossa atenção é a reforma tributária, sobre a qual existem ainda muitas dúvidas e, se for aprovada como está prevista hoje, vai impactar fortemente o turismo com aumento expressivo dos impostos.
“Embora estejamos em um bom momento, precisamos lembrar que realizamos investimentos durante a pandemia e eles ainda estão sendo recuperados. Um aumento de impostos gera aumento no valor de venda, que impacta toda a indústria, incuindo o consumidor final”, diz Ana Santana, diretora-geral da Schultz, uma das mais completas empresas turísticas do Brasil
Ana Santana, diretora-geral da Schultz (Foto: divulgação)
A executiva reforça que, apesar dos desafios, 2023 tem registrado importantes índices de crescimento: comparando o período entre janeiro e agosto deste ano em relação a 2022, o volume de vendas das empresas Schultz cresceu 72% - numa comparação com 2019, esse número foi de 58%. A expectativa é fechar o ano com crescimento mínimo de 60% em relação ao ano passado que, até então, vinha sendo considerado o melhor ano desde o início da pandemia da COVID-2019.
O aumento de vendas também foi verificado pelo Plaza Premium Group, líder global e pioneiro em inovação de serviços e instalações de hospitalidade aeroportuária, presente no Brasil desde 2016 com a administração de 10 lounges nos aoerportos internacionais GRU Airport, em São Paulo, e RIOgaleão, no Rio de Janeiro. Sem abrir dados oficiais, Emerson Sanglard, Sales & Marketing Manager Brazil, diz que a empresa registrou um alto volume de vendas obtido por meio de crescimento orgânico combinado com receita de novos negócios, mesmo considerando os desafios relacionados ao crescente aumento de custos dos insumos combinado com um cenário macroeconômico geopolítico que ainda refletem incertezas. “Devemos seguir buscando alternativas criativas e sustentáveis para lidar com esses cenários e, ao mesmo tempo, observar atentamente oportunidades como a otimização dos processos tecnológicos e transformação dos negócios por meio das pautas de ESG, cada vez necessárias e aderentes às demandas de um mercado consumidor mais exigente e consciente”.
Para além dos aspectos econômicos e políticos, Jardel Couto, da VCA Construtora & Incoporadora, uma das mais sólidas empresas deste setor no Nordeste e que acaba de criar a YAH!, braço de negócios dedicado a empreendimentos de praia. De acordo com o executivo, os desafios desta nova operação estão atrelados a profissionalizar sem perder a essência regional, além de conseguir escalar os produtos e serviços com qualidade. “Percebemos um mercado mais maduro e pronto para embarcar nas várias oportunidades da indústria. Brincamos que cada metro linear da costa do Nordeste é um negócio em potencial”, diz.
Fernando Kanbara, gerente-geral do Grand Mercure Curitiba Rayon, também fala dos desafios regionais. “Falando de Curitiba, vejo que a cidade vem crescendo sua potencialidade na exposição perante a outras cidades do Brasil e fazendo com que de alguma forma, consiga ser vista como uma cidade turística. Esse é o grande impacto. E de uma forma geral, a questão que está em evidência para a hotelaria é como sermos mais sutis e trabalhar em cima da tecnologia para que possamos ter menos processos automatizados e usar a tecnologia a favor de uma melhor performance e experiência do cliente. Esse é o grande desafio que temos e que podemos aproveitar”, diz. O executivo destaca que o empreendimento tem registrado performance de quase 10% acima do budget, além de diária média mais de 20% superior a registrada em 2022, considerando, em ambos os casos, o período entre janeiro e agosto.
Para além do Brasil e incluindo no País, a Europamundo comemora seu crescimento mundial na casa de 30%, também nos primeiros oito meses deste ano e em comparação ao mesmo período de 2019.
Clayton Araújo, gerente Comercial Brasil da Europamundo diz que o crescimento gera um problema bom para a empresa, criada há 25 anos na Espanha e líder em circuitos rodoviários pela Europa. “Há dois anos torciámos para que a vida voltasse ao normal e buscávamos os potenciais passageiros. Hoje buscamos lugares para atender as datas que estes passageiros querem viajar”, diz, complementando que a massificação de alguns atrativos é um dos maiores desafios vividos na atualidade e que demandam uma nova forma global de olhar para viagens, por parte de destinos, empresas e viajantes. “São desafios que já existiam, mas ficaram mais intensos. A gente tem ciência de que aumentou o interesse pelas viagens e pela busca de novas experiências. E isso é bom e nos dá oportunidades. Mas há destinos nos quais a massificação é um desafio, como são os casos de Roma, Milão, Veneza, Londres, Paris, Lisboa e Madri. Hoje, dificilmente, se consegue acesso a atrativos destes endereços com menos de 30, 60 ou 90 dias de antecedência. Para nós, profissionais do turismo, o principal ponto é buscar uma sinergia para que o turismo atende nossos passageiros de forma positiva e sustentável”, diz.
Novos oportunidades
A pandemia também incentivou novas formas de viagem, aí inseridos os conceitos de bleisure – termo em inglês se tem origem na mistura de business (negócios) e leisure (lazer), o nômade digital (impulsionado pelo home office e pela oportunidade de trabalhar de qualquer parte do globo) e a indústria da propriedade compartilhada, além de locações por curta ou média duração.
Fabiana Leite, é diretora América do Sul da RCI, empresa que é líder mundial na indústria da propriedade compartilhada, aí inseridas as operações de timeshare e multipropriedade. “A propriedade compartilhada ajuda a manter a sazonalidade em períodos de baixa demanda”, diz a executiva, complementando que “com isso, o empreendedor mantém ativos sua mão de obra, a ocupação hoteleira e o entorno do hotel, alimentando de forma importante, além do seu negócio, um ecossistema que depende do turismo”. A RCI realizou, em 2022, mais de um milhão de intercâmbios em todo o mundo.
Compartilhando os desafios da mesma indústria, Gustavo Syllos, head de Marketing, Vendas e Distribuição da Livá Hotéis & Resorts, a primeira administradora e gestora profissionalizada de multipropriedade do Brasil, fala sobre a nova lógica de consumo pós-pandemia. “O que vemos é um novo consumidor provocando os serviços de lazer (não apenas os hotéis e resorts, mas também aéreos, aluguel de carro e receptivos) a mudar a forma que produz e comercializa as suas ofertas e se relaciona com o cliente. A transformação digital de acesso ao conteúdo e maneiras de oferecer e divulgar os produtos de turismo é irreversível – o que é ótimo para todos dessa cadeia”, diz, complementando que “além disso, a forma de financiamento das viagens pelo próprio serviço está no foco da discussão, pois com a crise de tantas plataformas distribuidoras o cliente final busca obter essas facilidades de pagamento junto ao fornecedor final. No nosso negócio, a questão de harmonia e transparência nas relações com proprietários e também com hóspedes é chave para criar satisfação entre todos”, finaliza.
Entre as novas oportunidades de hospedagem que servem ao turismo, plataformas de moradia e hospedagem flexível estão em alta e crescem a passos largos. É o caso da Xtay, startup criada em meio à pandemia e que hoje já está presente em seis destinos no Brasil, localizados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, além de um amplo plano de desenvolvimento pela frente. Na avaliação de Gabriel Fumagalli, co-fundador e CEO da Xtay, a indústria está passando por uma momento de alta que está diretamente ligado à demanda reprimida da pandemia. “A indústria do turismo sempre foi ciclica. Hoje em dia estamos uma alta que era esperada pela impossibilidade de viajar nos anos de pandemia, mas temos que nos preparar para os momentos de acomodação e até de baixa demanda, tanto no turismo de lazer como no turismo de negócios”, diz.
Relevancia das feiras, eventos e canais
“Houve um tempo em que o consumidor buscava pelo hotel padrão. Não havia espaço para surpresas, ele queria entrar em um meio de hospedagem de uma determinada categoria e encontrar as mesmas características em termos de metragem, número de travesseiros e tipo de TV instalada. Essa busca pela padronização, que já foi muito importante para a indústria hoteleira, hoje é questionada, visto que o hóspede dos dias atuais busca por novas experiências”, diz César Nunes, vice-presidente de Marketing & Vendas da Atrio Hotel Management, a terceira maior operadora hoteleira do Brasil e primeira de capital 100% nacional.
O executivo também fala dos novos modelos da oferta turística, que incluem o turismo fraccionado ou propriedade compartilhada, anteriormente debatido por Fabiana Leite, da RCI, e a locação por temporada, setor no qual está inserida a Xtay, de Gabriel Fumagalli. “O segmento MICE também está em alta. Depois de tanto tempo confinadas, as pessoas querem viver experiências e isso se vê refletido na venda recorde para grandes shows, fenômeno que se repete nos eventos corporativos com grande adesão ao modelo presencial”, diz. O segmento MICE é integrado por reuniões, eventos, viagens corporativas e de incentivo.
Nunes também aborda a mudança de perfil do perfi do consumidor , especialmente em relação à tecnologia. “Investimentos em chatbots e inteligência artificial estão em desenvolvimento para melhorar a experiência do hóspede, mas não se pode esquecer também da atuação omnichanel – seja em sistemas voltados ao corporativo ou via mídias sociais, já que a evolução digital expandiu os canais de compra. Se, no passado, era o relacionamento que abria portas e permitia acessar grandes compradores e distribuidores, hoje a relevância está nos canais”, finaliza.
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